sábado, 8 de janeiro de 2011

É fato ou é foto?


Já falei sobre o uso de Photoshop em outro post - eis o link:http://seilatipoassim.blogspot.com/2010_02_01_archive.html. Volto ao assunto porque na manhã ensolarada de hoje, o papo preferido da galera que tuíta foi o comercial das Havaianas estrelado por Fernanda Vasconcelos. Foi descuido ou jogada de marketing o caso de a atriz aparecer sem umbigo?http://extra.globo.com/retratos-da-vida/fernanda-vasconcellos-aparece-sem-umbigo-em-comercial-819569.html. No twitter, houve vários comentários debochados, mas achei mais interessantes os protestos.

Parece que, de certa forma, funcionou como um consolo para boa parte do público feminino. É como se elas se sentissem vingadas. O homem que acredita no que vê na TV ou na Playboy é um trouxa. Aquelas beldades não são tão bonitas assim. As celulites, as gordurinhas, as estrias, as varizes... tudo é apagado, e uma mulher imperfeita (normal) passa a ser perfeita, com curvas acentuadas, pele bronzeada e flacidezes (adorei esse plural) eliminadas.

Além disso, para as desprovidas de atributos, é possível alegar que a culpa é da ausência de photoshop. Quando um homem admira a beleza da celebridade na novela, a mulher pode se defender, dizendo: "Com a produção que ela tem, até eu!". Já imaginaram? O marido comenta com sua mulher: "Amor, acho que você está engordando". Ela replica: "Pague um photoshop pra mim que suas suspeitas não se confirmarão."

Sei não, mas passa pela minha cabeça a hipótese de num futuro próximo não haver mais mulheres originais, assim como os cds, os dvds, os softwares e as carteirinhas de estudante. Taí a Ângela Bismarck para não me deixar mentir.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O inferno são os outros 2 - A saga continua

Pense num cão latindo. Não, assim não! Mais alto e mais forte! Pense num cão desesperado. Feroz! Latindo. Pensou? Agora, multiplique o som que você imaginou (abstração) por cem! Conseguiu? Concebeu? Pois foi assim que ocorreu no prédio onde moro. De madrugada! A noite toda! Por quê? Simplesmente porque os donos do cachorro – que cachorrada! – viajaram. Enquanto eles se divertem em algum canto, nós fazemos uma vigília por aqui.

Não foi a primeira vez. Os vizinhos já protestaram antes. Como não gosto de confusão, evitei participar da pseudoassembleia que rolou pela manhã. Sei lá o que vai ocorrer com os (ir)responsáveis que deixaram o animal desesperado. Só sei que não foi possível dormir. Moro no 302. O cachorro do vizinho (com duplo sentido), no 401. Apelei para a música (fone estourando os tímpanos). Não resolveu! Liguei a TV. Não adiantou! Tentei ler. Não houve jeito! Estava determinado pelo cosmos que eu deveria ficar acordado.

Na portaria, ouvi o comentário da vizinha do 501:

- Coitado do cachorro!

Perguntei a ela:

- E eu? Você está com pena de mim também?

- Como assim?

- Você está mais triste pelo que aconteceu com o cachorro ou pelo fato de ninguém no prédio ter dormido?

- Meu filho, você já parou para pensar no sofrimento do bichinho?

- Minha filha, você já parou para pensar no sofrimento dos moradores?

- Como assim? (Juro que parecia provocação esse inferno de “como assim”)

Tentei, em vão, fazê-la enxergar o óbvio:

- O animal sofreu, mas os moradores sofreram mais, você não acha?

- Claro que não!

Após essa afirmação surpreendente, ela lançou mão de uma frase marcante. Fiquei estupefato com tanta profundidade. Não tive como estender o diálogo. Resoluta, firme e categórica, a vizinha defensora dos animais vomitou:

- A dor da angústia da saudade é maior do que a dor de uma noite mal dormida!

Como assim?

sábado, 1 de janeiro de 2011

O inferno são os outros


Já viram as matérias dos jornais nos dias 31 de dezembro e 1º de janeiro? Pessoas sorrindo, desejando paz aos outros, manifestando muita esperança de dias melhores. Bacana isso. Comovente. Há quem se emocione até mesmo com a posse da classe política! Mas não estou nesse clima. Estou mais para Michael Douglas em “Um dia de fúria!”
Um "filósofo de botequim" já disse que “as pessoas só fazem conosco aquilo que permitimos que seja feito”. Balela! Eu, do fundo do coração, gostaria de estudar o que se passa na cabeça de algumas pessoas. Por que fazem determinadas coisas? Se alguém puder me ajudar nessa empreitada, ficarei imensamente agradecido. Para não esticar muito o assunto, vou me ater a duas situações que me intrigam. Ei-las:
1) Deve-se respeitar o credo de todos. Nada de discriminar a religião alheia. Ok! Até aí, tudo certo. Mas, vem cá: seria muito pedir que os devotos de Iemanjá cultivassem sua fé sem emporcalhar as praias? Fico pensando se todas as religiões fizessem o mesmo. No primeiro dia do ano, oferendas a orixá dos rios e mares; num outro dia seria a vez de os católicos derramarem a hóstia no mar, em homenagem Àquele que andou sobre as águas; em seguida, os evangélicos despejariam cálices (ou baldes) de vinho tinto nas águas para simbolizar o sangue derramado na cruz; e depois os espíritas, e depois os hare krishna, e depois os budistas... Seria interessante, não? Seriam cadastradas todas as religiões, e cada uma teria um dia do ano para sujar as praias. Que tal?
2) Você está em casa, confortavelmente instalado na poltrona, lendo apaixonadamente um livro delicioso e, de repente, um sujeito para o carro na esquina, abre o compartimento traseiro, exibe os 475 alto-falantes e liga o som. Alto, é claro! Música ruim, é óbvio! Serão, no mínimo, três horas de inferno. Serão malditos momentos nos quais você vai questionar os benefícios de ter os ouvidos funcionando bem. Serão amaldiçoados e intermináveis minutos de tortura jamais experimentados por qualquer militante preso pelos milicos nos anos de chumbo. Por que isso? Por que esses retardados acham que todos os moradores daquela rua devem curtir aquele som podre? Por que é tachado de chato quem solicita educadamente que os debiloides abaixem o volume? O que se passa na cabeça desses boçais? Cadê o revólver???