quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Os impostos são impostos pelos impostores

Aproveitando um texto no blog da Pri, trago à tona uma discussão: qual o preço que se paga para não se corromper? Faz alguns meses que fui motivo de chacota (alguém ainda usa essa palavra?) num dos cursos onde trabalho, pois revelei que não tenho carteirinha de estudante e, evidentemente, sempre pago ingressos no valor integral. Todos os professores e funcionários do curso (não são estudantes) riram e, entre outras pérolas, pude ouvir: “Então paga inteira, otário!”, “Larga de ser trouxa!”, “Você quer ser mais justo que o rei...”.

Após esses comentários, revelei também que não compro nem cd nem dvd pirata. Alguns professores que estavam ali lecionam Direito, mas não agem direito. Eles estimulam a pirataria. Havia mais de dez pessoas na sala e todas, exceto o “mané” aqui, usam carteirinha falsa para pagar meia entrada e adquirem produtos piratas. E dormem tranquilas.

O que leva o cidadão a burlar as leis? Alguns infringem a lei porque nem consideram o que fazem uma infração. Outros minimizam o erro, alegando que “não estão prejudicando ninguém”. A explicação mais usada é: “o governo nos obriga a agir assim”. É isso! A postura omissa do Estado, sonegando a nós o que é nosso por direito, legitima o ilegal. Esse é o raciocínio!

Pagamos impostos (muitos e caros) para que o governo conceda, entre outras coisas, saúde, educação, segurança. Mas, alguém aí recebe esses serviços do governo? A equação é simples: pagamos e não recebemos. O Estado nos rouba. Solução: pagar duas vezes (ao governo e aos particulares) ou “dar o jeitinho”, fazendo “gato” na instalação elétrica, na TV a cabo, pirateando produtos, falsificando documentos, fazendo caixa 2, estacionando em local proibido etc. Assim, cada um faz do jeito que acha mais justo. E, como todo mundo, de uma forma ou de outra, se corrompe, não pesa acusação.

Estou sendo simplista demais ou é isso mesmo? Raso demais ou essa é a verdade? Os esclarecidos e intelectuais bem que poderiam me ajudar a entender. Se o Estado não nos presta os serviços pelos quais pagamos, por que continua cobrando tantos impostos? E por que seria errado se não pagássemos mais? Pagar pelo que não recebemos é prova de bom comportamento ou demonstração de que somos subservientes?

Continuo “mané” ou procuro um retrato 3x4...?

P.S. - O título do post de hoje foi extraído da música “O leão contra o cristão”, do grupo Egotrip.

domingo, 25 de outubro de 2009

Perdão, mas eu não consigo perdoar!

Geralmente, quando um crime choca a sociedade, no calor do acontecimento, ainda sob o efeito devastador da tragédia, emitimos opiniões recheadas de ódio pelo(s) criminoso(s), inflamadas de desejo por vingança. Sensibilizamo-nos com a família da vítima e revoltamo-nos contra o(s) assassino(s). Sentimentos intensos, que são aplacados com o tempo. Até porque, infelizmente, outra tragédia não tarda a chegar para substituir a anterior.

Há uma semana, no centro do Rio, o coordenador do AfroReggae, Evandro, foi covardemente assassinado. O grupo se destaca pelo trabalho social desenvolvido nas comunidades carentes. Ao ler a notícia, fiquei bastante triste. Ao saber os detalhes que ocorreram após o crime, fiquei revoltado. Resolvi não comentar porque estava como descrito no parágrafo aí de cima. Mas estou preocupado, uma vez que um sentimento ruim não me abandona: tenho desejado ardentemente a morte – com requintes de crueldade – dos policiais que não só negaram socorro à vítima como também liberaram o assassino em troca de um par de tênis e uma jaqueta.

Que espécie é essa? O que faz um ser humano tirar a vida do outro por causa de uma jaqueta? Mas, sobretudo, o que explica um policial se comportar como o cabo Marcos Oliveira e o capitão Dennys Bizarro? Escapa à minha compreensão uma pessoa agir assim. Na boa, gostaria que antropólogos, sociólogos, psicólogos tentassem responder a essa indagação. Existe alguma ciência capaz de explicar essa brutalidade?

Mas, como disse lá em cima, estou menos preocupado com a explicação do que com o que sinto desde terça-feira. Sei que não sou melhor do que ninguém, que não devo alimentar ódio, que não tenho o direito de julgar e condenar. Isso tudo é sabido, mas também é teórico pra cacete! Fica lindo no discurso. A gente sai bem na foto. Mas confesso que tem sido mais forte que eu a vontade de ver esses dois canalhas sofrerem muito, mas muito mesmo, até a morte. Não consigo ler ou ouvir as notícias sobre o caso sem sentir repulsa, nojo, aversão por esses dois policiais.

Fico curioso para saber o que faz um advogado de defesa num julgamento de pessoas assim. O que amenizaria o crime absurdo que esses energúmenos cometeram? O que pode ser usado para atenuar a mais explícita manifestação de desumanidade? Qual a pena justa (existe?) para esses abjetos?

Honestamente, queria pensar diferente. Queria ser mais racional, maduro ou mais bem preparado para analisar esse episódio com outro olhar. Sinto inveja dos elevados de espírito. Mas, de terça-feira até hoje, tenho encontrado muita dificuldade para entender como esses dois policiais boçais podem ser enquadrados na categoria “ser humano”.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Vai ser bom, não foi?

Priscas Eras

Carta de Lourdinha para uma amiga:

Querida Virgínia, ontem eu e Rodolfo passeamos pela Quinta da Boa Vista. O encontro foi alvissareiro, pois, em alguns momentos, ele até pegou nas minhas mãos. Temo que tenha ruborizado, mas, se ele percebeu, disfarçou bem e não comentou. Caminhamos e conversamos muito. Ah, amiga, esse engenheiro está fazendo meu coração bater acelerado. Já faz dois meses que nos conhecemos e só penso no dia em que trocaremos o primeiro beijo. Acho que se eu puser o vestido que Tia Ifigênia me deu vai ser batata. Tu concordas comigo?

Com carinho
Maria de Lourdes

Resposta de Virgínia:

Querida Lourdinha, alegra-me o coração tomar ciência de teus progressos com Rodolfo. O vestido que ganhaste de tua tia, de fato, é supimpa. Creio que o engenheiro ficará entusiasmado e pedir-te-á em namoro a teus pais. Crê nisso, aquieta-te e aguarda a iniciativa dele. Não te precipites!

Com carinho.
Virgínia

Tempos Modernos

MSN entre Val e Rê:
- migaaaaa?
- oiê...
- e aí, rolou?
- claro, né?
- e?
- d +
- ah q inveja...
- tava xapada, né?
- axei q vc tava no brilho só.
- ahauhahaua... bebi todas...tava de vibe.
- como é o nome dele mesmo?
- ih, miguxa, isquici...
- caraca, mulé, vc é loca...
- ah, o carinha era manero...isso q importa
- meu peguete naum me respondi mais
- quem manda fazer jogo duro?
- pow, mas a gente so saiu treis vezes...
- intão, vc n deu, perdeu, sem noçaum
- fazê o q, né?
- e hj?
- ah, sei lá, bora pra pista...
- partiu...





domingo, 18 de outubro de 2009

O sucesso das listas

Você gosta de fazer listas? “Tipo assim” as dez melhores frases que já ouviu, os dez melhores filmes a que assistiu, as dez melhores novelas que acompanhou etc. O número dez é só uma sugestão. Pode ser uma lista de cinco ou quinze. Se você é chegado, sugiro o livro aí do lado. Impressiona o número de listas (das mais interessantes às mais idiotas, como, por exemplo, “celebridades brasileiras que têm tatuagens”) arroladas (linda palavra!) na publicação.

Mais específico é o livro “10+ do cinema”, no qual o autor, Denerval Ferraro Júnior, apresenta 51 listas relacionadas a filmes, com categorias interessantes como “os dez maiores vilões” (vitória incontestável de Hannibal Lecter). Tem também os dez melhores filmes sobre tribunais e “Doze homens e uma sentença” encabeça a lista. Artur Xexéo, nas três últimas colunas publicadas em O Globo, vem organizando uma lista dos filmes mais tristes, aqueles que nos fazem chorar.

Há bastante tempo na lista dos mais vendidos, o livro que lista os 100 livros mais importantes de todos os tempos também merece uma olhada. É um pouco frustrante perceber que não li nenhum dos dez primeiros. A Bíblia Sagrada - que na verdade é uma reunião de vários livros – aparece em 41° lugar. Desconheço o critério utilizado pelos autores para a classificação apresentada.

Não comprei nenhum desses livros, apenas passeei por suas páginas em algumas visitas às livrarias. Você pode fazer o mesmo. Ou, melhor ainda, você pode fazer as suas próprias listas. Critérios estabelecidos por você, de acordo com sua formação, com seus valores, com sua visão de mundo, permitirão listas interessantes. Veja o filme “Alta Fidelidade”, com John Cusack, e você nunca mais vai encarar uma lista do mesmo jeito. Eu resolvi fazer a minha (uma só, por enquanto). A seguir, apresento os dez melhores filmes que já vi. Essa lista pode mudar amanhã. Concordem ou discordem à vontade, só não me exijam coerência.

1- Amores Brutos – Fiquei grudado na cadeira do cinema (UFF) durante a exibição dos créditos finais. Passei a noite em claro de tão chocado que fiquei. É triste. É forte. É desalentador.

2 – Closer – Uma das melhores atuações da Natalie Portman, na melhor história sobre “sexo verbal” do cinema. Chegar perto demais de quem amamos pode ser o início do fim desse amor.

3- Match Point – Ponto Final – Eu não posso falar do Woody Allen com imparcialidade. Mas esse filme foi apreciado até pelos que não gostam do autor. Além de ter a Scarlett Johansson, o roteiro beira à perfeição. A frase inicial é emblemática: “Eu prefiro ter sorte a ser bom”.

4 – Desconstruindo Harry – Outro dele. Esse eu incluí na lista pela antológica cena em que Allen, descendo o elevador do inferno, vai passando pelos andares destinados aos condenados: o elevador para, e uma voz informa “segundo andar: advogados... terceiro andar: jornalistas...lotado!

5 – Antes da Chuva – Uma aula de narrativa, discutindo, entre outras coisas, a relação entre religião e amor. Genial!

6 – Cinema Paradiso – Talvez, revendo esse filme hoje, ele seja excluído das lista. Mas, pelo impacto que me causou na época, tá dentro.

7 – Fim de Caso – A música de abertura arrepia. E tem a Julianne Moore. Uma história de amor aparentemente simples. Mas as aparências enganam...

8 – Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança – Pela Kate Winslet e pelo roteiro.

9 – Irma La Douce – Como a lista está repleta de dramas, incluí essa comédia para suavizar. E seria injusto não aparecer nenhum filme do genial Billy Wilder. Uma pena que o cinema não nos ofereça mais filmes assim.

10 – Montros S.A. – Fiquei na dúvida se fechava a lista com um filme da Pixar ou um nacional. Depois, a dúvida foi acerca de qual dos espetaculares filmes da Pixar seria o eleito. Como passei vários bons momentos vendo e revendo esse filme com minha filha Luíza, a vaga é dele.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Amanhã, hoje será ontem

O Globo publica diariamente no Segundo Caderno uma seção chamada Há 50 anos. Trata-se de um Box em que são destacadas as notícias mais importantes publicadas pelo jornal meio século atrás. Às vezes me surpreendo com o que leio ali. E sempre temi – o temor só aumenta com o passar dos anos – o dia em que eu encontrar uma notícia da qual eu me lembre.

Como ainda falta mais de uma década para eu chegar aos 50, pensei em reduzir o tempo da seção à metade. Se fosse Há 25 anos, seria possível encontrar expostos ali fatos que presenciei. Sem muito esforço, busquei na memória – e na Internet – as notícias mais importantes de 1984.

Em 1984, não havia eleições diretas para presidente (começava o movimento Diretas Já). Ninguém tinha computador em casa. Não havia o Sambódromo nem a Linha Vermelha, nem a Amarela. Não havia TV por assinatura nem controle remoto. Você se lembra da Alemanha Ocidental e Oriental, da União Soviética, do comunismo? A lista de esquisitices é longa! Mas o que de fato chama minha atenção é a intensidade das mudanças. Vamos voltar no tempo. Estamos em 1984 e um sujeito diz que Lula será Presidente da República, eleito pelo povo, por duas vezes consecutivas. Delírio, não? Alguém imaginava o celular em 1984? O DVD? O mp3? O I-Phone? E quem supunha que o Fluminense (campeão brasileiro daquele ano) seria rebaixado três vezes consecutivas? Incrível, não?

Depois de examinar o que acontecia no Brasil e no mundo há duas décadas e meia, fiz o caminho inverso e imaginei o que poderá acontecer daqui a 25 anos. Por mais criativo que eu tente ser, sei que minha capacidade de fazer previsões passa longe do que de fato será fato. Mesmo assim, resolvi dar asas à imaginação. Eu sei que parecerei um lunático. Um tolo. Um mentecapto. Mas se você se dispõe a ler o que escrevo, você não é tão diferente de mim.

Em 2034, será possível substituir qualquer parte do corpo com uma pequena-micro-mini-cirurgia. Está insatisfeito com seu cotovelo? Troque! Qualquer mulher com mais de 33 quilos será anormal. O barulhinho do motor do dentista será algo obsoleto, só haverá tratamento a laser. Na política, um dos filhos do casal Garotinho-Rosinha será nosso Presidente. Na TV, Supla vai apresentar um programa sobre Filosofia. Será proibido ensinar Análise Sintática nas escolas. Sasha será Helena na nova novela de Manoel Carlos. O Fluminense voltará à primeira divisão. As ruas do Rio serão asfaltadas. A Nativa FM sairá do ar. O brasileiro vai se orgulhar do Congresso... do Zimbábue.

E os professores serão respeitados, recebendo salários dignos... ops! Acho que me excedi. Melhor parar por aqui.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Não choro por ti, Argentina!

Você quer a Argentina dentro ou fora da Copa? Amanhã, no Estádio Centenário, em Montevidéu, os argentinos decidem sua sorte contra os uruguaios. Vencendo ou simplesmente empatando a seleção dirigida por Maradona estará na África do Sul ano que vem. Se perder, tudo vai depender do resultado entre Chile X Equador, em Santiago. Se o Equador vencer, a Argentina (derrotada no Uruguai) estará eliminada; se houver empate ou vitória do Chile, os “hermanos” disputarão uma repescagem contra Honduras ou Costa Rica.

Eu fui fã do Maradona (jogador) e aprecio muito um futebol bem jogado. Para a Copa, é melhor um jogo da Argentina do que um jogo do Equador ou do Uruguai. E, reconheçamos, a Argentina tem jogadores que enchem os olhos como Messi e Verón, por exemplo. Uma Copa sem a Argentina representa menos tempo em frente à TV, significa exercitar menos nosso ofício de secar os eternos rivais. Portanto, eu quero que a Argentina vá à Copa? DE JEITO NENHUM!

Seria a realização de um sonho vê-los eliminados. Eles merecem. Principalmente Maradona. Pela empáfia, pela arrogância, pela soberba, Maradona merece cair do cavalo. E, se ocorrer, será uma queda para entrar na história. Desde aquela presepada que ele fez num programa de TV, chamando os brasileiros de trouxa porque beberam água “batizada” no duelo da Copa de 90 (a Argentina eliminou o Brasil), tenho um prazer cada vez maior quando a Argentina perde.

Com os pés no chão, acho pouco provável que o Equador vença o Chile, por isso, creio que são boas as chances de a Argentina se classificar. Mas sou torcedor. E torcedor não pode ser racional. Uma pena que não poderei assistir ao jogo, pois estarei trabalhando. Ou melhor, tentando trabalhar. Meu corpo estará na sala de aula, mas voltarei meu pensamento para Montevidéu e Santiago, torcendo fervorosamente por uruguaios e equatorianos. Amanhã é dia de secar! Secar muito! Tomara que dê tudo certo e eu consiga voltar para casa a tempo de ver a entrevista coletiva de um abatido Maradona tentando justificar a eliminação. Será impossível conter as gargalhadas...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Fase Zen ("Zen" paciência...)



1 – Chove lá fora. Você caminha pelas ruas tentando alternar as olhadas para o chão para escapar das poças (existe alguma calçada em algum lugar do Rio de Janeiro que não tenha buraco?) com as olhadas para frente, pois os idiotas que vêm em sentido contrário não levantam o guarda-chuva, creio eu que a intenção seja a de furar seu olho. Aliás, por que as pessoas que estão com o guarda-chuva insistem em andar sob as marquises, prejudicando quem está sem?

2 – Escada rolante - Será que antes do ano 2040 as pessoas vão aprender que o lado esquerdo da escada rolante deve ficar LIVRE para quem está com pressa? Por que as pessoas atrasam tanto o lado dos outros?

3 – Caixa de supermercado – Além de lidar com atendentes grau máximo no quesito mau humor, é insuportável suportar o cliente que gruda atrás de você como se um centímetro de distância representasse que ele está fora da fila. Que mania é essa de despejar os produtos do carrinho na “esteira” antes que os seus produtos sejam registrados? Por que as pessoas são tão sem educação? (Já estou imaginando a reação da Pri.)

4 – Sistema de som do Maracanã – Na boa, alguém consegue entender, decifrar, desvendar o que é dito durante os jogos? Por que o Maracanã tem um som tão ruim?

5 – Propaganda de loja de eletrodomésticos – Pode ser Ponto Frio, Casas Bahia, Ricardo Eletro... tem sempre um locutor ou – o que é pior – um garoto-propaganda gritando as ofertas como se ser surdo fosse atributo indispensável para se tornar um cliente. Proponho entrarmos nessas lojas perguntando os preços e as condições de financiamento dos produtos no mesmo volume.

6 – Promoção de Drogarias – Quem estabeleceu que o locutor que anuncia as ofertas das farmácias tem que fazer aquela voz de pseudo-Wando? E por que todo mundo imita isso?

Foi só para descarregar, ta? Já estou mais leve. Até porque tem coisa muito pior que essas aí de cima: torcer pelo Fluminense, por exemplo...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O valor da música


O que você aprecia mais numa música? A letra? O arranjo? O ritmo? O gênero? Mas o que caracteriza uma boa letra? A originalidade? A profundidade? O que precisamos encontrar numa letra para ela ser considerada profunda? E o arranjo? É bom ou ruim segundo que critérios?

Na adolescência eu tocava bateria. Era sofrível, mas dava pro gasto, considerando que quem ouvia gostava muito de mim ou não entendia nada de música (talvez as duas coisas). Toquei no casamento do meu irmão, o que prova o quanto ele não levou a sério a cerimônia. Meus julgamentos acerca do que era música boa ou não, quase sempre, eram sustentados no que o baterista fazia. Nem aí pra letra. Se o batera era fera, a música valia a pena.

Mais tarde comecei a considerar outros aspectos. Letras com as quais eu me identificava começaram a ser apreciadas. Depois comecei a admirar as guitarras. Solos de guitarras me conquistavam. Em casa, diferentemente da maioria, eu paro para ouvir música. Ou seja, não ouço enquanto faço alguma coisa; eu paro, ouço e presto atenção a vários detalhes, geralmente recorrendo ao fone para apreciar melhor as melodias, os instrumentos, as vozes. Músicas já várias vezes ouvidas ainda me surpreendem quando percebo uma novidade.

Mas há respostas para as perguntas lá de cima? Por que uns adoram determinados artistas que são odiados por outros? O que a galera vê demais naquela banda que você detesta? O que faz você venerar ou simplesmente apreciar certos profissionais da música? Em época de respeito à pluralidade (pelo menos em tese), revelar desprezo por certos gêneros ou artistas pode não cair bem. Pois eu acho que isso é frescura. Manifestar o que preferimos ou preterimos é bem diferente de ser preconceituoso.

Definir se a música é boa ou não é pra lá de subjetivo. Dependendo do momento em que nos encontramos, o que era bom pode soar péssimo e vice-versa. Se a música faz você se emocionar, aproveite! Se leva à sua memória momentos especiais vividos com alguém, reviva! Se faz seu coração bater num ritmo diferente, curta! Se concede a você inéditas experiências sensoriais, liberte-se! Se mostra o lado bom da vida, celebre! Ouça música com outros olhos! Viva a música!

domingo, 4 de outubro de 2009

Ouvindo a ouvinte

Estava atrasado para o trabalho, recorri ao táxi. Percebi que o motorista escutava no rádio uma "estação gospel". A música executada era mais uma daquelas melodias de gosto duvidoso, com uma cantora tentando alcançar o tom mais alto possível - o popular "esganiçado". Entrando no túnel Rebouças, não foi mais possível ouvir aquela ladainha, o que me deixou aliviado. Quando saímos do túnel, o locutor anunciou a hora da participação do ouvinte. Perguntas seriam feitas e, acertando as respostas, o participante receberia brindes como camisa, boné, chaveiro. Após o papo inicial para identificar a "irmã" que estava ao telefone, começaram as perguntas e um tique-taque "frenético" ao fundo para mostrar o tempo.

Primeira pergunta: “Irmã Rejane, dê o nome de, pelo menos, três discípulos de Jesus.” Confesso que não ouvi direito a resposta – o motorista do táxi, bem original, começou a divagar sobre o tempo -, mas, pouco tempo depois, o locutor disse “quase que erra, hein, irmã Rejane.” Vamos à segunda pergunta: “qual o nome do monte onde Moisés recebeu as tábuas da Lei?” A “irmã Rejane” demorou, reclamou, lamentou, apelou e, aos 44 do segundo tempo, com a ajuda do locutor, acertou: Sinai. Rolou mais uma pergunta, mas também não percebi qual era porque o taxista resolveu expor um tratado sobre os buracos das ruas do Rio. Aí veio a derradeira questão. Se a “irmã Rejane” acertasse, levaria todos os brindes. Quanta emoção!

Locutor: “O pai do rei Salomão foi Davi. E quem foi a mãe?” A “irmã Rejane” entra em pânico: “Ah, essa é muito difícil, ajuda aí... por misericórdia, dá uma dica!”, e o locutor fazendo aquele clima, criando suspense e botando pilha, enquanto a ouvinte só se desesperava. “Vai acabar o tempo, irmã, qual é a resposta?” “Ah, eu não sei, fala a primeira letra!” O locutor, onomatopeico, diz: “Bé... Bé... Bé.” E a ouvinte, histérica, repetia e perguntava: “Bé o quê?” “Bé o quê?” “Vamos, irmã, vai acabar o tempo. A mãe de Salomão foi Bé, Bé, Bé...”. “Ah, mais uma chance, moço, mais uma dica”, suplicou a “irmã Rejane”. Num ato de extrema benevolência, o apresentador facilita: “Bete, Bete, Bete...”. E a “irmã Rejane” não titubeia: “Bete Frígida”!

Calma, irmã, calma! Assim você me machuca!