sábado, 21 de novembro de 2009

Nem fim do mundo nem vampiro!


Não sei o critério utilizado pelos distribuidores de filmes para a escolha das datas de estreias nos cinemas. Faz pouco tempo, entraram em cartaz duas superproduções que devem bater recordes de bilheteria: 2012, mais uma história americana sobre o fim do mundo, e Lua Nova, a continuação do super-mega-ultra badalado Crepúsculo. Sem muito alarde, simultaneamente a esses dois blockbusters, também estreou 500 dias com ela (Days of Summer). Não vi os dois primeiros nem sei se vou ver, mas este último é uma delícia! Se eu fosse você, não perderia de jeito nenhum.

Trata-se de um filme brilhante, pois consegue ser pra lá de original mesmo falando de um tema pra lá de batido: ele e ela. É complicado escrever sobre um filme sem apresentar detalhes que “entreguem o final”. Admiro as raras sinopses que não adiantam quase tudo sobre a obra. Sem querer estragar eventuais surpresas, posso dizer que o filme fala de um jovem que se apaixona por uma mulher que – what a big surprise! – não acredita no amor!

Há muito a ser apreciado: a trilha sonora de demasiado bom gosto, os olhos da protagonista, os diálogos espertos, o roteiro não-linear, as várias cenas bem sacadas, a homenagem ao clássico “Annie Hall”, de Woddy Allen... Mas o que enche os olhos, o que marca mesmo é a maneira honesta de falar sobre algo quase sempre nocivamente idealizado ou lamentavelmente banalizado: esse tal do "amor".

terça-feira, 17 de novembro de 2009

É (im)preciso saber viver

Recebi um e-mail com uma mensagem sobre “como aproveitar melhor a vida”. Era pra excluir direto, mas caí na asneira de abrir o arquivo. Depois do karaokê, o PowerPoint foi, sem dúvida, a pior invenção da história. Para intensificar o dano, as letras vinham à prestação, a música de fundo era do Kenny G e as imagens eram de cachoeiras, árvores e bichinhos meigos. Resumo da ópera: palavras torpes saíam da minha boca enquanto a tecla Pg Dn era pressionada freneticamente.

Por que as pessoas fazem isso? Incrível saber que há quem acredite nesses conselhos vagos e genéricos tipo assim: “faça novas amizades”, “pratique uma atividade física”, “cultive bons hábitos”, “escreva uma carta de amor” etc. Mais raso que filme da Xuxa, mais cafona que programa de auditório da Band e mais óbvio que vitória do Flamengo num jogo contra o Botafogo.

Na boa, qual o acréscimo que o destinatário recebe ao ler mensagens assim? Se aproveitar a vida fosse tão fácil, não teríamos o alarmante número de pessoas deprimidas que encontramos por aí. Se fosse simples, as farmácias não se multiplicariam. Se fosse banal como o maldito texto sugere, os terapeutas não trabalhariam tanto.

É certo que complicamos demais. É indiscutível que somos nossos maiores obstáculos. É inegável que vacilamos mais do que deveríamos. Mas sorriso de comercial de margarina e expressão de quem posa para Caras não me convencem. Os sucessos e os fracassos fazem parte da vida de todas as pessoas (ok, o torcedor do Botafogo só conhece o segundo caso). O que as distingue é a maneira como reagem a isso.

Uma pessoa que manda conselhos sobre “aproveitar melhor a vida” num PowerPoint com música do Kenny G cai em contradição. É mais ou menos como organizar uma comissão de ética no Senado.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Vocês querem Mariah Carey?


Sou daqueles que gostam dos detalhes nas músicas. E aprecio com satisfação os chamados “backing vocals”. Ouvindo num fone bom – os que realçam os sons graves, os que possibilitam perceber todos os instrumentos -, fica melhor ainda. Foi assim que ouvi Mariah Carey pela primeira vez, cantando Anytime you need a friend, no álbum Music Box (ainda na época do vinil). Foi veneração à primeira audição.

Naquela época, Mariah era simples. Magrinha, jeitinho de menina, cantava e encantava fácil. De vez em quando, muito de vez em quando, fazia umas graças com a voz, alcançando tons altos com muita facilidade. Ouvindo Mariah hoje, fico com a sensação de que o sucesso fez um mal danado a ela. Das baladas e dos gospels, Mariah passou para algo entre o hip-hop e o rhythm and blues, mas o estilo é o que menos conta. O que incomoda, de fato, é o excesso.

Mariah virou “over”. Tudo nela transborda! O corpo “bombado”, a postura femme fatale e, principalmente, as demasiadas demonstrações das habilidades vocais nos extasiam rápido demais. Atualmente, ela está no topo da parada de sucessos com uma regravação de um clássico dos anos 80, do grupo Foreigner, I want to know what love is. A música é muito bonita, rola um coral estilo gospel no final, mas as firulas, os gritos e os gemidos de Mariah pontuando o refrão estragam a canção.

Era para ser o contrário. Via de regra, a maturidade traz a discrição, o comedimento, a classe. Os exageros são típicos dos novatos. A hiperbólica Mariah parece andar na contramão!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Pequena - que pena!

Faltam quatro rodadas para o término do campeonato brasileiro. Surpreendentemente, o Flamengo está em terceiro lugar, um ponto atrás do Palmeiras (o segundo) e dois atrás do São Paulo (o líder). Se considerarmos a matemática, são poucas as chances de o Flamengo conseguir o título. Se considerarmos o que vêm jogando os três times citados, são enormes as chances de dar Mengão Campeão.

Isso não significa que o Flamengo esteja jogando muito bem. Honestamente, acho que se trata de um futebolzinho meio insosso. Mas o que os dois times paulistas que estão à frente do Flamengo estão jogando é sofrível. Dá raiva! Palmeiras e São Paulo vêm tendo atuações abaixo da mediocridade e, se o futebol fosse um esporte justo, o título ficaria com o Flamen... Cruzeiro.

Mas o que me motivou a escrever este texto foi o resultado de uma pesquisa feita com torcedores do Botafogo. Explico: o Botafogo vai enfrentar São Paulo e Palmeiras e, para não correr grandes riscos de um novo rebaixamento – ele disputa contra Fluminense e Coritiba a última vaga para a Segunda Divisão -, o alvinegro tem que vencer as duas partidas. Todavia, vencendo os paulistas, o atual trivice carioca ajudará bastante o Flamengo. A pesquisa feita com os botafoguenses girava em torno da seguinte questão: você prefere escapar do rebaixamento, ajudando o Flamengo a ser campeão brasileiro ou ser rebaixado, evitando o título rubro-negro? Deu a segunda opção na cabeça! E com sobras!

Há outros fatores que foram ignorados pela pesquisa (de nada adianta Palmeiras e São Paulo serem derrotados se o Flamengo não vencer seus próximos jogos), no entanto fica claro que o nível de ridicularia da torcida do Botafogo – salvo raríssimas exceções - é insuperável.

Já cansei de ouvir que torcedor do Flamengo é ridículo porque “seca” os rivais, como se os rivais não secassem (e como!) o Flamengo. A eliminação do Flamengo na Libertadores por um time do México no ano passado foi motivo de carreata na Rua das Laranjeiras. Quando comemoramos a derrota do Fluminense na final da mesma competição, que, ao contrário de nós, eles nunca conquistaram, fomos execrados.

A gozação é saudável e bem-vinda. Faz parte do futebol tripudiar sobre o adversário derrotado. O torcedor do Flamengo não tem culpa de fazer isso com mais frequência do que os outros. Agora, preferir ver o time rebaixado a escapar da degola só porque isso beneficia o rival é prova cabal de que nada é tão pequeno quanto a pequenez da torcida do Botafogo.


domingo, 8 de novembro de 2009

sozinhos.com ou acompanhados.sem

Esta semana, ouvi de dois amigos, em dias diferentes, desabafos que considerei interessantes. Um, solteiro, mais jovem que eu, confessava que sua solteirice estava o deixando cansado. Ele reconhecia as vantagens de ser só, como por exemplo, não ter mulher lhe regulando a vida, ter o direito a largar a toalha molhada na cama, molhar a pia, poder variar o cardápio etc. Mas - disse ele - às vezes essa galinhagem cansa. “Este será o sétimo Natal e Réveillon seguidos que passarei sozinho”, lamentou. “Pegação o ano inteiro é bom, mas é duro não ter a quem beijar ou abraçar na chegada do novo ano.”, pranteou meu carente amigo.

Outro, casado há cinco anos, choramingava as agruras (“pranteou” e “agruras”? Eu escrevi isso mesmo?) da vida a dois. Ele me revelava a intenção de se separar da mulher com quem - disse ele - é impossível dialogar. “Mulher cansa!”, sentenciou. “Mulher é teimosa, chata, criadora de caso e, principalmente, ingrata”, asseverou meu oprimido amigo.

Não tenho vocação para ser psicólogo, embora já tenha recebido elogios por ser alguém que “sabe ouvir”. Talvez seja essa a razão que tenha feito meus dois amigos compartilharem seus problemas comigo. Eu os ouvi, claro, mas não pude ajudá-los de outra forma. Em se tratando de relacionamento a dois, sou tão entendido no assunto quanto a Vanusa é em relação à letra do Hino Nacional.

Mas, de alguma forma, penso que devemos parar com essa mania de considerar a vida que não temos como a melhor. A insatisfação é natural e funciona até como combustível para que ajamos e mudemos o que nos incomoda. Contudo, é fundamental aproveitar as vantagens da situação que vivemos, usufruir bastante o que está a nosso alcance, curtir o que é inerente à fase na qual nos encontramos. A vida de solteiro e a vida a dois são igualmente boas e ruins, embora eu prefira a segunda.

Trocar um churrasco com os amigos por um passeio no parquinho com as crianças pode ser uma boa se entendermos que aquele momento foi separado para aquela atividade. Deixar de ver um jogo na TV para acompanhar a namorada num jantar na casa de um parente dela pode ser interessante se... se... é... ah... peraí...peraí... hipocrisia tem limite!

"Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia
E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu"

domingo, 1 de novembro de 2009

Descolados & Deslocados

Conflito de gerações é algo cômico e... sério! Dependendo do ponto de vista, pode-se achar graça dos valores defendidos por uma pessoa mais experiente que nós, considerada um ser das cavernas muitas vezes. Mas, em outras situações, a falta de encaixe, a disparidade de padrões de conduta entre pessoas de gerações diferentes dá início a uma questão séria que envolve (in)comunicação. Falta, com frequência, boa vontade dos dois lados para que um entenda o contexto do outro.

Pensemos na geração que nasceu nos anos 30 ou 40 do século passado. O deslumbramento com o surgimento da TV, a rotina marcada por papéis bem definidos para homens – os provedores – e mulheres, as submissas. Tudo muito diferente dos dias de hoje, inclusive a ilustração aí de cima mostra como a questão da “autoridade” também vem mudando. Normalmente uma geração nega os valores da anterior, buscando impor outras formas de comportamento, que, por sua vez, serão contestadas pela geração seguinte. Isso é nítido nas manifestações culturais, por exemplo.

Mas o interessante ocorre quando alguém não se encaixa na sua própria geração. Experimenta-se a angústia de não se sentir “do grupo”, de parecer um extraterrestre, de ser tão diferente, que o termo “bizarro” parece cair como uma luva. E, para complicar, o deslocado tenta assimilar os valores da sua geração, faz força para aceitar o que “é normal”, mas o esforço é em vão. Não dá. Simplesmente, está fora de alcance. Você já se sentiu assim?

Quais os valores da sua geração que você não consegue compreender? Já se sentiu angustiado por querer ser “moderninho(a)”, mas quase morreu de ciúme? Já se flagrou totalmente sem jeito numa festa porque não compactuava com os hábitos da tribo predominante ali? Já arrumou barraco por defender princípios considerados pra lá de ultrapassados? Já passou pela sua cabeça que todos falam de você com um tom de deboche – ou pior: pena - porque o veem como um estranho? Seu velho!

E pode ser que ocorra o oposto. Você é o(a) avançadinho(a). Abaixo a caretice, você é alguém à frente da sua época, cultuando valores incompreendidos hoje, mas que serão normais daqui a pouco. Quem disse que é errado? Por que é errado? Você é praticamente uma Leila Diniz!

De uma forma ou de outra, paga-se caro por ser anacrônico!