sábado, 12 de maio de 2012

O legado de não legalizar



Acabei de ver, no canal Brasil, o filme "Quebrando o tabu", dirigido por Fernando Gostein Andrade, sobre um tema que ainda vai dar muito o que falar: a descriminalização e/ou legalização das drogas. Fernando Henrique Cardoso faz uma espécie de "âncora", conduzindo as entrevistas com diversas autoridades de países que enfrentaram ou estão enfrentando essa questão tão delicada. Há também participações de Paulo Coelho e Drauzio Varella, com depoimentos interessantes. O filme - bem como uma mudança drástica na política de combate às drogas - é OBRIGATÓRIO!

Uma das falas de Drauzio Varella me deixou surpreso porque ele reproduziu o que eu já venho dizendo há algum tempo: numa daquelas viagens para o futuro, fico imaginando o que será motivo de espanto quando os de lá olharem para o nosso tempo. Assim como, hoje, soa ridículo uma mulher ser subserviente ao marido (algo comum há algumas décadas), penso que lá na frente as pessoas não vão acreditar que houve um tempo em que usuário de droga era estigmatizado e - inacreditável - preso por isso.

Rola uma certa vergonha por fazer parte de uma geração assim. Rola um certo constrangimento por saber que há quem coloque no mesmo saco (ou na mesma cela) um usuário de droga e um assassino, por exemplo. Ok, já avançamos um pouco nessa área, todavia nossa lei, imprecisa, precisa estabelecer de forma precisa quem é usuário e quem é traficante (e é óbvio que enquanto isso não acontece a classe social da pessoa flagrada com a droga, vai determinar, quase sempre, uma coisa e outra).

Um dos muitos méritos do filme é não ser panfletário. Não se trata de uma apologia ao uso das drogas. O objetivo é mostrar algo que, apesar de escancarado, ainda não foi visto por boa parte da sociedade: tratar como marginal o usuário de droga (dependente dela ou não) só contribui para agravar o problema.

É impossível reduzir a discussão do assunto a algumas linhas ou a um filme. Mas seria um bom começo se as pessoas contrárias à legalização começassem a cultivar uma visão menos estreita e superficial sobre o tema. É legítimo posicionar-se a favor da proibição, mas sustentar o preconceito é covardia.

É preciso acender a cabeça de quem está acostumado a apertar o cerco ao usuário de droga.










2 comentários:

  1. Infelizmente, nosso passo tupiniquim e conservador ainda nos mantêm distantes dessa clareza de pensamento. Mas sempre é preciso começar de algum lugar... Que o debate seja lançado!

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