terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pedra e Vidraça

Em meados do ano passado, almocei com um amigo, que é professor de Direito Previdenciário. Ele me falava, em tom de protesto, sobre o absurdo que é nosso sistema de aposentadoria. Discorreu sobre o assunto usando bastantes termos específicos, o que não me impediu de entender que, no Brasil, pouquíssimos gozam de uma aposentadoria nababesca enquanto muitos recebem uns caraminguás depois vários anos trabalhados e boa parte do salário descontada. Foram marcantes na nossa almeitiga (dicionário!) tanto a ilogicidade do sistema de aposentadoria brasileiro quanto a veemência com a qual meu amigo se manifestou, discordando de toda a engrenagem que envolve a estrutura previdenciária.

Pois muito bem. Esta semana, voltamos a almoçar. E ele me disse que, desde outubro passado está saindo com alguém. Sendo mais específico: ele está saindo com uma mulher rica, moradora do Leblon... e beneficiada pelo sistema que ele tanto critica. Criticava! Não sei os detalhes, mas parece que ela é filha ou ex-esposa de militar, sei lá, o que sei é que ela recebe, sem esforço algum, algo na casa dos R$ 8.000,00 mensais. Meu amigo não paga a conta quando os dois saem juntos. E, em momento algum do nosso encontro, repetiu o tom do penúltimo almoço. Por que será?

Carlos foi meu colega de faculdade. Nos anos 90, chegou a se candidatar a vereador por São Gonçalo. Recebeu uns 100 votos. Lembro-me que ele dizia que iria lutar pela implantação de uma linha das barcas ligando a Praça XV a São Gonçalo. Os moradores dessa cidade poderiam chegar mais rápido às suas casas se não precisassem passar por Niterói.

Pois muito bem. Reencontrei o Carlos. Ele é proprietário de uma loja num shopping que fica entre a estação das barcas, em Niterói, e o terminal rodoviário utilizado pelos passageiros que moram em São Gonçalo. Perguntei a ele se seria uma boa uma linha direta da Praça XV até São Gonçalo. Ele disse: “Deus me livre, isola, toc, toc, toc.!” Por que será?

Sempre fui contra a carteirinha falsa de estudantes. Já disse aqui nesse blog, várias vezes, que fui alvo de piadas ao recusar fazer uma carteirinha para mim. Em todos os locais onde trabalho, alunos e professores fazem, sem qualquer dificuldade, o documento que lhes garante 50% de desconto nos cinemas, teatros e afins. Mês passado, a coordenadora de um dos cursos em que leciono me pediu uma foto 3x4, alegando que serviria para “atualização de cadastro”. Entreguei a foto a ela. Esta semana, ela me deu uma carteirinha de estudante. Na frente de todos os funcionários. E disse: “Quero ver você jogar fora. Vai continuar pagando inteira?” Provocação! Como quem quisesse testar minha integridade moral. Pensei em fazer um discurso moralista; desisti. Cogitei esfregar a carteirinha “na cara dela”; recuei. Aventei a possibilidade de, em silêncio, destruir o documento; desencorajei.

Pois muito bem. Não usei a carteirinha! Mas não a joguei fora. Por que será?

3 comentários:

  1. Já dizia Nelson Rodrigues:" O dinheiro compra até amor verdadeiro"

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  2. Meus amigos tentam me mandar docs para poder fazer boleto de faculdade e pagar meia, eu recebo, agradeço, mas não faço. Quem quer entender, entende. Não vou ficar explicando meus motivos de querer fazer o que é certo, quem tá errado que se explique!

    Hj fui no Centro e aproveitei para pesquisar o valor do Office 2010, que eu tenho que comprar. R$179!! Não consegui disfarçar a minha surpresa. rs Isso pq era o simples, o completo custa mais de R$400. Oo Não é de surpreender que fora do edifício tenha tanto "ambulante" vendendo softwares piratas.

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  3. É...! Por que será, né??

    O pior é ver gente que fica tão incomodada com a (opção digna da) honestidade alheia, a ponto de fazer pressão pra induzir ao erro!!

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