sábado, 31 de julho de 2010

Palmadas na bunda do governo!

Sou contra bater em crianças. Considero covardia. Normalmente, quando pai ou mãe lançam mão do chinelo ou de outro instrumento qualquer para “corrigir” o filho, já estão sem controle e não medem a força da agressão. É a raiva, e não o amor, que move a palmada, o beliscão, a surra. Nada que a criança possa fazer justifica o ataque dos pais. É evidente que não sou a favor de pais frouxos, que permitem tudo, criando crianças completamente despreparadas para a realidade. Mas entre os que batem e os que tudo transigem existe o bom senso.

Teórico demais, eu sei. Na prática, com o estresse que suga nossa paciência, a saída mais fácil é impor respeito via violência. A gente fala, a criança não obedece; a gente “espanca”, a criança se aquieta. Mas há um preço alto a se pagar quando a intimidação substitui o diálogo. À criança, além da sensação de abandono (pais modernos estão sempre ocupados demais), fica o rancor, instaura-se o medo; aos pais – os agressores – multiplica-se a culpa. A sensação de impotência é exacerbada quando a saída é a violência.

Numa época em que quase todas as crianças são criadas por avós ou creches, a violência mais nociva aos filhos não é a física; é a emocional. A geração de hoje tem pouco contato com o colo da mãe, com o encorajamento do pai. Aprende-se o essencial à vida com os amigos, com a televisão, com a Internet, com os videogames, com os psicólogos. Os pais, de novo, estão ocupados demais. Quanto maior a sonegação dos pais, maior a rebeldia dos filhos. Mas que fique claro: quantidade de tempo juntos não significa qualidade.

Malgrado (palavrinha feia!) tudo isso, repudio a ideia de ser aprovada uma lei (o projeto já tramita na Câmara) que propõe que os pais sejam proibidos de usar castigos físicos para corrigir seus filhos. Na boa, o governo não tem nada mais importante pra fazer, não?

Que tal um projeto de lei que puna os governantes que sonegam educação de qualidade às crianças? Que tal um projeto de lei que castigue os responsáveis pelo vergonhoso e humilhante salário – a expressão “ajuda de custo” seria mais adequada aqui – que os professores da educação básica recebem? Por que não um projeto de lei impondo penas severas aos secretários de educação que fazem vista grossa às condições de ensino nas salas de aula?

Que a punição fique por conta dos pais (isso não significa ser conivente com a violência contra a criança)! Compete aos governantes oferecer condições dignas aos pais e professores na árdua tarefa de educar as crianças.

Os danos causados pela omissão do estado na área da educação são infinitamente mais graves do que algumas palmadas que as crianças possam receber!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Liberdade pra fora da cabeça!


Sempre gostei de bonés. Mas usava raramente. Faz uns quatro meses, comecei a usar com mais frequência. Para meu espanto, passei a ser perseguido. Explico: alguns coordenadores e vários outros professores passaram a me reprovar alegando que não pega bem dar aulas de boné.

Perguntei por quê. E, para meu maior espanto, as respostas variaram tanto que resolvi expô-las aqui. Esclareço a quem ainda não sabe: dou aulas de Português em cursinhos preparatórios para concurso público. Vamos aos comentários:

Uma das coordenadoras disse, reconhecendo ser preconceituosa, que boné é coisa de marginal, de gente que é parada em blitz, de quem tem o que esconder na cabeça. Outra disse que se trata de algo para moleques. Ouvi ainda que boné não combina com a profissão. Um professor, amigo, camarada, disse que eu não sou adolescente em show de rock ?!?, e houve também quem tenha dito que minha aula perde a credibilidade.

Confesso que tentei analisar cada um dos pareceres supracitados. Mas, por mais que eu me esforce, não consigo captar raciocínios tão complexos. Eis minha contra-argumentação aos meus destratores:

Boné não é coisa de marginal. Se pensarmos assim, abandonemos as bermudas, os chinelos, as cuecas porque marginal também usa tais peças. E a única coisa que eu tenho a esconder na cabeça são alguns poucos fios grisalhos que tentam povoar a mata predominantemente preta. Quanto ao outro argumento, não entendi por que boné não tem a ver com a profissão. Quem decide isso? Baseado em quê? E tatuagem? E brinco? E piercing?

Mas o pior argumento foi, sem dúvida, o da perda de credibilidade. Coméquié? Minha aula é pior por que eu uso boné? Se eu explicar as regras da crase com boné vai ficar mais complicado para o candidato entender? É isso? É impressão minha ou ainda defendem a ideia tosca de que vale julgar um livro pela capa? Isso me lembra alguns muitos eleitores de Collor, dizendo que ele era mais “apessoado” que o barbudo Lula. Na boa, se alguém desiste de assistir à minha aula porque eu estou de boné ou acha que vai aprender menos por isso, esse ornitorrinco não merece ser aprovado num concurso. Vade retro!

É óbvio que há regras e convenções a serem seguidas. É evidente que um mínimo de postura deve ser natural em quem lida com o público, dando aulas. A aparência é importante, sim. Mas fazer escarcéu por conta de um acessório como o boné e perseguir quem o usa é mais – muito mais – ridículo do que tentar criar uma ambiente informal numa aula que tende a ser maçante pelo conteúdo a ser discutido.

Acho idiotice e cafona, num país tropical, principalmente numa cidade como a do Rio de Janeiro, as pessoas usando terno e gravata. Tão ridículo quanto Papai Noel, de vermelho, com aquela barba imensa num calor de 40 graus! Mas respeito quem usa (o terno, não a roupa de Papai Noel!). Na boa, o clima do Rio pede roupa e comportamento informais. O solene é bom pra paulista! É aula de cursinho, galera!

Quem, de fato, está precisando arejar a cabeça nessa história?

terça-feira, 6 de julho de 2010

Aturdido Artur!

Grata surpresa encontrar meu amigo Artur aqui nas Laranjeiras. Após a saudação inicial, barzinho e a inevitável pergunta: "E a seleção, hein?" Do sorriso aberto, meu nobre amigo passou a uma sisudez atroz. Revoltadíssimo, disparou em alguns segundos suas variadas teses sobre o futebol. Especificamente sobre a seleção, o adjetivo mais ameno que ele empregou para se referir ao Felipe Melo é impublicável aqui. Criticou o Kaká, praguejou contra o Luís Fabiano, insultou o Michel Bastos, asperejou o Robinho, vituperou até mesmo o Lúcio. Fiquei ouvindo. Esperando a vez do Dunga. Mas ele não se referiu ao nosso "treinador". Provoquei: "Cara, e o Dunga?" Presenciei uma metamorfose! De branco a vermelho, de indignado a colérico, Artur espumava pela boca tal qual um cão raivoso. Fiquei com medo, confesso. Ele esmurrou o balcão, concentrando sobre si os olhares de todo o público do Serafim. Nada se compara ao que vi. Nem mulher reclamando da pia molhada no banheiro. Com a voz elevada à décima potência, peito estufado, puxou o ar e mandou tão alto que metade dos moradores da Rua Alice pôde ouvir: "ARROMBADO"!

Foi intenso! Foi visceral! Mas também foi constrangedor! Até porque, creio eu, quase todo mundo pensou que ele se referia a mim.

Quem me mandou provocar?