Sou contra bater em crianças. Considero covardia. Normalmente, quando pai ou mãe lançam mão do chinelo ou de outro instrumento qualquer para “corrigir” o filho, já estão sem controle e não medem a força da agressão. É a raiva, e não o amor, que move a palmada, o beliscão, a surra. Nada que a criança possa fazer justifica o ataque dos pais. É evidente que não sou a favor de pais frouxos, que permitem tudo, criando crianças completamente despreparadas para a realidade. Mas entre os que batem e os que tudo transigem existe o bom senso.
Teórico demais, eu sei. Na prática, com o estresse que suga nossa paciência, a saída mais fácil é impor respeito via violência. A gente fala, a criança não obedece; a gente “espanca”, a criança se aquieta. Mas há um preço alto a se pagar quando a intimidação substitui o diálogo. À criança, além da sensação de abandono (pais modernos estão sempre ocupados demais), fica o rancor, instaura-se o medo; aos pais – os agressores – multiplica-se a culpa. A sensação de impotência é exacerbada quando a saída é a violência.
Numa época em que quase todas as crianças são criadas por avós ou creches, a violência mais nociva aos filhos não é a física; é a emocional. A geração de hoje tem pouco contato com o colo da mãe, com o encorajamento do pai. Aprende-se o essencial à vida com os amigos, com a televisão, com a Internet, com os videogames, com os psicólogos. Os pais, de novo, estão ocupados demais. Quanto maior a sonegação dos pais, maior a rebeldia dos filhos. Mas que fique claro: quantidade de tempo juntos não significa qualidade.
Malgrado (palavrinha feia!) tudo isso, repudio a ideia de ser aprovada uma lei (o projeto já tramita na Câmara) que propõe que os pais sejam proibidos de usar castigos físicos para corrigir seus filhos. Na boa, o governo não tem nada mais importante pra fazer, não?
Que tal um projeto de lei que puna os governantes que sonegam educação de qualidade às crianças? Que tal um projeto de lei que castigue os responsáveis pelo vergonhoso e humilhante salário – a expressão “ajuda de custo” seria mais adequada aqui – que os professores da educação básica recebem? Por que não um projeto de lei impondo penas severas aos secretários de educação que fazem vista grossa às condições de ensino nas salas de aula?
Que a punição fique por conta dos pais (isso não significa ser conivente com a violência contra a criança)! Compete aos governantes oferecer condições dignas aos pais e professores na árdua tarefa de educar as crianças.
Os danos causados pela omissão do estado na área da educação são infinitamente mais graves do que algumas palmadas que as crianças possam receber!