Zico está de volta ao Flamengo. A partir desta terça-feira, o maior ídolo da maior torcida do mundo assume o cargo de diretor-executivo. É para celebrar. Ter o Zico por perto é sempre bom. Craque dentro de campo, sensato e bom caráter, o Galinho certamente haverá de atrair energias positivas para a Gávea, além de investimentos, é óbvio. Um detalhe, porém, me deixa bastante intrigado: com a zona que impera no clube mais querido do Brasil, conseguirá Zico executar seu trabalho em paz?
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Missão Impossível ou À Espera de um Milagre?
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Mesa redonda com ideias quadradas
Daqui a pouco começa a Copa do Mundo na África do Sul. Adoro essa competição. Se não precisasse trabalhar, assistiria a todos os jogos. Aprecio até Honduras x Suíça! Se pudesse, eu me isolaria do mundo e ficava trancado no quarto vendo os jogos, os debates (dialogando com a TV e criticando os críticos) e as reprises dos jogos. Gosto do clima, das imagens, dos estádios lotados, das surpresas que o futebol sempre oferece. O que jamais surpreende são os nossos comentaristas esportivos. Como são previsíveis! Como são óbvios! Como são chatos! Mais chatos que o Dunga!
Nossa seleção pode trazer o Hexa! E, vejam como sou perspicaz, pode não trazer! Para provar que os analistas esportivos, em sua maioria, não acrescentam nada, antecipo aqui os textos que serão publicados na mídia. Caso Dunga e seus volantes tragam o caneco, os textos serão mais ou menos assim:
“O mundo se rende ao futebol brasileiro. Indiscutivelmente, somos o país do futebol. O hexa veio na raça, na garra, na aplicação tática de um time que é a cara do seu treinador. Dunga se iguala a Zagallo e a Beckenbauer (campeões como jogadores e como treinadores), compondo um trio de respeito. Demonstrando personalidade e coerência, nosso técnico não deu ouvidos a apelos insensatos e repetiu a estratégia de Parreira em 94, montando um time de guerreiros. Nossa intransponível zaga, garantida por um meio de campo consistente, provou ao mundo que o futebol brasileiro também sabe se defender. E, na hora de atacar, nosso talento sempre fala mais alto. Valeu, Dunga!”
Mas, porém, contudo, entretanto, todavia, desconfio de que o resultado não será esse (torço para estar errado). Se nossa seleção fracassar na África, os textos serão mais ou menos assim:
“Por que abrir mão das raízes do nosso futebol? Por que copiar o modelo europeu? Ao recusar talentos como Ganso, Neimar, Ronaldinho Gaúcho e similares, e congestionar nossa seleção de volantes trogloditas, o teimoso e iracundo Dunga minou as possibilidades de conquistarmos o hexa. O que se viu foi um futebol pobre tal qual o modelo de 94. Mas lá havia Romário. Na África, havia jogadores vindo de contusão no ataque e um sem número de cabeças de área. Enquanto seleções como Argentina e Espanha encantavam com um futebol ofensivo, o Brasil decepcionava com um futebol medíocre e enfadonho. Que nos sirva de lição para 2014!”
Preparem-se! Será um festival de asneiras para Bruno nenhum botar defeito! Em caso de eliminação, vão dizer até que Ronaldo Fenômeno tinha que ter sido escalado. Ou Obina!
Uma pesquisa rápida nos textos da crônica esportiva antes e depois da eliminação do Brasil em 82 vai comprovar o que estou dizendo.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Cala a boca, Secretário!
Hoje, um acidente envolvendo sete carros, na Ponte Rio-Niterói (sentido Rio) provocou um monstruoso engarrafamento na cidade de Arariboia. Nenhuma novidade, certo? Acidentes na ponte, infelizmente, são comuns. E engarrafamento em Niterói é redundância. O que causou estranhamento foi o apelo do secretário de trânsito de Nikity, Sérgio Marcolini, sugerindo que o cidadão niteroiense pare de usar seu carro e recorra à travessia da baía de Guanabara via barca.
Em primeiro lugar, gostaria de saber se Vossa Excelência usa o serviço oferecido pelas Barcas S.A. Usa? Sabe o que é isso? Já enfrentou, pelo menos uma vez na vida, uma fila básica de trinta minutos para conseguir acessar à estação e lá suar feito frequentador de sauna? Já ficou feito bicho, todo espremido atrás de uma corda aguardando a liberação para entrar na embarcação? Já imaginou essa rotina de segunda a sexta?
Em segundo lugar, gostaria de saber se o acesso ao centro de Niterói, onde está a estação das barcas, ficará livre. O cidadão que mora no Fonseca, no Barreto, em Icaraí, no Ingá – bairros próximos ao Centro - chegará, utilizando transporte público, em quanto tempo à estação das barcas? Dá pra imaginar a situação: troca-se o carro por um ônibus que vai passar sabe-se lá quando, lotado, deixando o cidadão no “aprazível” terminal rodoviário. Uma caminhada de dez minutos, uma fila de trinta... que beleza! Vossa Excelência faria isso? Diariamente?
Em terceiro lugar, gostaria que Vossa Excelência me respondesse o óbvio: o que falta para que as barcas criem uma linha direta para São Gonçalo? Hum... isso melhoraria muito a situação, mas... mas... Seria interessante Vossa Excelência explicar esse “mas”, não? Enquanto não rola uma explicação, vou fazer uma suposição: as empresas de ônibus que fazem o trajeto Niterói-São Gonçalo ou Qualquer Lugar do Rio-São Gonçalo concedem uma generosa verba à prefeitura – além de financiarem a campanha do prefeito e de alguns vereadores – a fim de garantirem que a linha direta das barcas Praça XV-São Gonçalo não acontecerá. Será?
Seria bom se nossas autoridades, antes de dizerem asneiras, dessem exemplos. Fácil pedir que o cidadão deixe o seu carro em casa. Fácil repassar a responsabilidade. Fácil fechar os olhos para o óbvio.
Difícil é oferecer transporte público de qualidade (se isso existisse, apelos idiotas como o seu, secretário, seriam desnecessários). Difícil é combater a máfia das empresas de ônibus. Difícil é planejar para não ter que remediar.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Em nome de Deus
No episódio envolvendo os jogadores do Santos numa visita ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, que cuida de crianças com paralisia cerebral, para entregar ovos de Páscoa, uma parte dos atletas, entre eles, Robinho, Neymar, Ganso e Fabio Costa, se recusou a entrar na entidade e preferiu ficar dentro do ônibus do clube, sob a alegação de que são evangélicos e não sabiam que se tratava de uma casa espírita.
Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço de que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé.
A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo, ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas.
E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproximam os diferentes, fazem com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina - ou pelo menos deveria ensinar -, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e a miséria de uma paralisia cerebral.