Acabou de acabar a primeira rodada da Copa do Mundo. Acabaram de acabar minhas esperanças de ver futebol nessa competição. Já faz tempo que rola uma discussão idiota acerca do que é melhor numa Copa: jogar bonito - como fizemos em 82 -, mas ser eliminado ou jogar feio – como fizemos em 94 -, mas ficar com a taça. Óbvio que a resposta certa é jogar bonito e ficar com a taça. Nós, brasileiros, temos todas as condições para isso. Mas, a exemplo do que acontece em outras situações, preferimos copiar o que vem de fora a fazer valer nossa tradição.
A nossa derrota em 82 não foi trágica só porque ficamos sem o título na Espanha. Nossa derrota serviu como pretexto para que os boçais de plantão justificassem o futebol de marcação, o futebol de posse de bola. Ficou claro o recado: não adianta ter um time cheio de craques; é melhor um time que não se expõe tanto. Trocamos o talento por aplicação tática; a versatilidade por preparo físico; o drible por passes laterais; a finta por mediocridade; a magia por previsibilidade; a alegria por determinação. Tudo que tínhamos de melhor deu lugar a um futebol insosso e sonolento.
O tetra em 94 ajudou a coroar esse “futebol de resultado”. Não importa se jogamos feio. Importante é termos saído da fila, é termos conquistado a taça. Essa é, lamentavelmente, a visão predominante. Como se não fosse possível conquistar o título jogando bonito.
É por isso que temos esse futebol podre que tem sido apresentado na Copa da África. Já repararam que os noticiários esportivos precisam recorrer a outros expedientes para preencher a pauta? Como não há lances interessantes dentro das quatro linhas, pipocam reportagens sobre o comportamento da torcida (e tome vuvuzela nos ouvidos!), a cultura africana, as personalidades presentes no estádio, a reação dos treinadores à beira do campo, o bolão dos jornalistas... De futebol, que é a razão de ser da Copa, ninguém fala!
É duro ter que ver uma seleção brasileira encontrando dificuldades para vencer uma seleção da Coreia do Norte (o Olaria vence fácil os coreanos); é irritante ver nosso treinador escalar três volantes para enfrentar um time que não nos ataca; é doloroso saber que, ao final do jogo, atletas e comissão técnica reproduzem o ensaiado discurso do “importante foram os três pontos”. Pior do que enterrar o talento é arrumar desculpas estúpidas para isso.
Sei lá quem vai levar essa Copa. Claro que torço pelo Brasil. Mas, do fundo do coração, se isso não acontecer, não vou ficar nem um pouco chateado. Nenhum traço de amargura. Nada de decepção! Essa mentalidade que prevalece no futebol tem que acabar! Estão levando ao pé da letra a infeliz frase do Parreira: "O gol é apenas um detalhe!"
Como disse o saudoso Bussunda “existe uma enorme diferença entre entender de futebol e gostar de futebol.” Pena que o primeiro grupo é quem dá as cartas no futebol de hoje.